Pra não dizer que só falei de flores

Quem vê meu interesse atual por esportes pode cair na tentação de assumir que tenho algum dom que me é natural ou nasci com determinadas habilidades. Engano comum e crasso, não faz jus aos meus anos de praticante do sedentarismo. E não era um sedentarismo opcional, era causado pelo desempenho ruim e a consequente desistência do esporte em questão. E não foi só um!

Ao ingressar no colégio militar um mundo novo de opções e esportes se abriu para mim. Até então eu estudava em um escola publica do bairro e educação física praticamente sempre era jogar queimada, coisa que particularmente eu detestava. E nunca fui de simular interesse, lembro de ter sido alertada pela professora da época, em que estava me preparando para o concurso, que se fosse admitida teria que praticar esporte de verdade lá.

E realmente, lá havia estrutura, professores qualificados e diversas atividades que estimulavam e educavam atletas. Nessa fase da vida tínhamos a impressão que eu seria um adulto enorme, cresci muito cedo e meus pais logo esperaram um futuro promissor e alto para mim. Promissor quem sabe… mais altura, errou rude! Mas graças a essa impressão precoce busquei o basquete.

Até perseverei por alguns dias, até que o treinador estava exaltado com os alunos e pesou a mão em algum treino e cheguei a conclusão que basquete não era para mim. Depois foi a vez do handebol, provavelmente segui o fluxo de algumas amigas que se interessavam e fui tentar a sorte no handebol. E se bem me lembro durou menos ainda a tentativa vã, avaliava o esporte como muito bruto.

O judô me deixou apavorada, reclamava do cheiro do tatame, do excesso de contato, sem chances. Da natação eu até gostava, o que não gostava era encher a mochila com toalha, roupas molhadas e coisas afim. Passei um longo tempo no futsal, graças a frequência que recebíamos chocolate de presente do treinador e os treinos eram agradáveis, mas não conseguia deixar de me frustrar por ficar de reserva nos jogos.

Além dessas tentativas no esporte lembro de frequentar por um tempo a banda de música, tentando aprender flauta, e não houve dedicação nem tempo suficiente e foi mais um projeto abandonado. Assim como a tentativa de aprender sozinha a tocar violão, graças a um violão que recebi de presente do meu avô e mais uma vez a falta de habilidade se fez presente me confundindo em tentar aprender copiando destros.

Tiveram os concursos também, prestei vestibular para o IME, instituto militar de engenharia, para o ITA, instituto tecnológico da aeronáutica, para AFA, Academia da força aérea e EFOMM, escola de formação de oficiais da marinha mercante. A primeira vez que prestei, ao final do ensino médio, não tinha preparo especifico e fui fazer as provas como quem joga na loteria. Cometi erros que não entendo o porquê e acertei coisas que não esperava.

Então por um ano fiz curso preparatório para o IME e ITA, nesse período não fiz nada na vida além de conciliar o cursinho e as primeiras matérias na faculdade de engenharia. E o cursinho só contribuiu para que eu soubesse ainda mais sobre o meu despreparo tanto em termos de psicológico para fazer provas quanto algumas brechas no conhecimento, principalmente se comparado ao nível de preparo de candidatos que prestam alguns desses exames.

Hoje, satisfeita por cursar engenharia na UFJF, carrego na bagagem todo o tempo dedicado a aprender mais para prestar esses concursos e a todas as tentativas que deram ou não certo. No caminho fiz amigos, passei por diversas situações memoráveis e me orgulho de erros e acertos, aprovações e reprovações. De alguma forma tudo me leva a crer que as coisas certas acontecem no momento que precisamos, ainda que seja necessário bastante esforço envolvido.

Descobri depois de abandonar a tentativa de ingresso ao ITA ou IME que gostava de musculação. Com isso fui me interessando por corrida ao mesmo tempo que me interessei por rugby e ambos pareciam se complementar. E conheci as atividades físicas que me envolviam e fui moldando minhas habilidades com treinamento e auto conhecimento.

Dá mesma forma com a engenharia, ainda estou no processo de conhecer área e ferramentas, não só da engenharia mas do mercado de trabalho como um todo. Hoje tenho menos convicções sobre o que quero para o futuro do que há alguns anos atrás. Pode parecer ruim, mas creio que seja uma questão de colocar o pé no chão e avaliar as opções reais.

Tenho muitas ambições em relação a dinheiro, amizades e felicidade como todo. E vivendo, manipulando a vida e por ela sendo manipulada que acredito ser capaz de chegar em um ponto confortável. A certeza que fica é que todo aprendizado, assim como os amigos, fizeram a pena. E busco sempre me permitir mudar de planos, (re)adequar os desejos tudo conforme o tempo e o vento.

14 comentários em “Pra não dizer que só falei de flores

  1. Este texto bate bem com a conversa que tivemos – o dar ou não certo!
    Lembro que te disse sobre eu ser ” o multi-atleta que não deu certo” kkkk
    Creio que, deu certo no período que teve que ser, mas tudo muda. Outras ambições, necessidades e interesses, assim, o que foi já não é mais e… tudo bem! E é fato de que muitas coisas deram muito certo e fui feliz dentro daquela etapa.
    Ei! Admirável sua luta e conquistas… vai longe, garota!
    Estou torcendo por você daqui… sucesso! 🙂

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    1. Foi exatamente essa conversa que me fez revisar essas lembranças… 🙂 E que bom é ter o poder de mudar né? Corpo e alma se cansam de mesmice… É bom lembrar! Dando certo ou errado sempre sobra histórias e risadas pra contar. Obrigada pelo incentivo e tudo de bom por ai também! 😀

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  2. Gostei muito da sua postagem, é um relato muito parecido com o da minha vida. Comecei muitas coisas, mas dei continuidade em poucas (até começar a faculdade). Gostaria de saber, você teve um apoio dos seus pais ou colegas para a pratica de esportes?
    Grande abraço, Sucesso!

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    1. Que legal que tenha se identificado de alguma forma. Em casa sempre me incentivaram a participar de esportes mas nunca levaram muita fé. Os colegas, em geral, estavam nessa fase de selecionar preferências e experimentávamos alternativas em grupo. Hoje que admiro e pratico mais esportes sinto que o incentivo mais significativo costuma vir mesmo dos veteranos em cada atividade. Fico muito a vontade de aprender com aqueles que conseguem me corrigir e auxiliar pois já passaram, de certa forma, dessa fase inicial. Obrigada por comentar! Sucesso por ai também! 🙂

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